sábado, 29 de outubro de 2022

REFLEXÃO DOMINICAL II

 

REFLEXÃO DOMINICAL II

VER E ENCONTRAR

Em certa ocasião, o Papa Francis- co disse uma frase que pode nos motivar a uma reflexão coerente quanto à nossa missão cristã: “Cada encontro com Cristo muda a nossa vida”. Diante dessa pro- vocação a um autêntico encontro transformador com o Senhor é que podemos olhar para a liturgia deste 31º Domingo do Tempo Comum e contemplar o resplen- dor de duas palavras comprometedoras: ver e encontrar. Ao lermos o Evangelho de hoje, é possível constatar que Lucas relata por quatro vezes o contato visual através do “ver” ou “olhar”. Certamente, o evangelista quer enfatizar a importância da observação das realidades humanas e espirituais. Não obstante, esta transcende o sentido da visão, ou seja, há um chamamento para a contemplação que vai para além do ver. De fato, o evangelista quer nos sensibilizar para o que há por detrás de cada olhar, isto é, para a história, para a vida, que são únicas, irrepetíveis, e que ultrapassam aparências, falhas, ou qual- quer outro aspecto que deprecie as pessoas. Interessante observar que o nome “Zaqueu” significa “puro” e, curiosamente, o personagem do evangelho é retratado como o chefe dos publicanos, os quais, para muitos na época, eram tidos socialmente como impuros. Porém, diante da aproximação de Jesus, Zaqueu, que possuía baixa estatura, sobe em um sicômoro para notar aquele que chegava. Talvez, ao subir, ele procurava ver aquele que pudesse entender seus dramas interiores. Mas para sua surpresa, aquele que procurava ver foi visto; Jesus levantou seus olhos e o encontrou. Decerto, esse ver para além do externo só poderia ocorrer com aquele que olha com misericórdia, com compaixão, com amor. Somente Jesus poderia ver o verdadeiro Zaqueu, em sua essência, sob a ótica da transformação, da mudança de vida, de conversão. Zaqueu, em função de sua posição social, seguramente, já havia participado de muitos banquetes e festas, porém, em si um grande vazio o tomava. O drama deste pequeno se fundava na exclusão sentida do banquete da vida. Porém, ao buscar encontrar Jesus, Zaqueu é encontrado, é chamado pelo nome. E aí está a lógica evangélica: todo encontro com Jesus transforma. E essa transformação exigiu, e exige de cada um de nós hoje, uma atitude coerente, uma decisão corajosa, isto é, a de uma verdadeira abertura do coração para a ação de Deus na vida. Essa abertura transborda a lógica humana e leva Zaqueu a um despojamento, no caso, a uma tentativa de reparar as injustiças cometidas através da doação de metade de seus bens e da restituição ao quádruplo dos prejuízos provocados a outrem. Foi esse movimento autêntico que fez dele um modelo seguro de conversão evangélica: ao se converter a Deus, converteu-se aos pobres. Portanto, diante da liturgia de hoje, algumas reflexões podemos, e devemos, fazer seriamente em nossas vidas: como é o olhar de Deus? Como nos deixamos alcançar pelo Senhor? Nossa abertura a Deus tem nos levado a uma vida nova, para a partilha daquilo que somos e temos em nossas comunidades e também fora delas? Que neste dia, façamos o firme propósito de ajudarmos a testemunhar esse Deus que ama e acolhe a todos, inclusive os pecadores e os ajuda na luta contra o pecado que destrói a felicidade humana.

 Dom Carlos Silva, OfmCap Bispo Auxiliar de São Paulo

https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-46-c-59-31-domindo-do-tempo-comum.pdf

 


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