ESPERO A VIDA DO MUNDO QUE HÁ DE VIR
No
dia de Finados, nossas ideias sobre a vida e a morte são confrontadas com a fé
católica que professamos. No Credo Niceno-Constantinopolitano (o mais longo)
nós professamos: “espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de
vir”. E no Símbolo dos Apóstolos (o mais breve), nós proclamamos: “creio... na
ressurreição dos mortos e na vida eterna”. Como todos, nós choramos a morte das
pessoas queridas e experimentamos a precariedade da vida neste mundo, que pode durar
alguns anos a mais ou a menos, mas vai passando e um dia se encerrará. A
certeza da morte pode inquietar profundamente e nos faz procurar respostas. O
que vem depois da morte? Ainda haverá algo para nós? Essa pergunta derruba
nossos sonhos de onipotência e nos coloca no nosso lugar: somos criaturas, e
não, o Criador. A última palavra sobre a nossa existência não será nossa. Resta
a fria resignação, o desespero, ou a abertura a Deus: somente Deus é o vivente,
que pode dar a vida. Nós cremos na ressurreição dos mortos; a morte não tem a
última palavra sobre a existência humana. Cremos no Deus da vida, que é capaz
de dar vida também a quem fechou os olhos à luz deste mundo. Ele vive e nós
receberemos dele a vida em plenitude. Mediante a ressurreição, os mortos não
voltam a viver neste mundo, mas passam à vida transfigurada, junto de Deus.
Cada pessoa vive apenas uma vez neste mundo. “Espero a vida do mundo que há de
vir”: nossa fé na ressurreição dos falecidos nos leva a esperar na realização
das promessas de Deus, que na Bíblia equivalem às expressões “vida eterna” e
“nova criação”. Isso não é alcançado pelas capacidades humanas: “a vida do
mundo que há de vir” é obra da graça de Deus e da ação do Espírito Santo em
nós. Ele é o Espírito da “vida nova” e o sopro divino que faz viver. O “mundo
que há de vir” é a companhia de Deus e dos seus anjos e santos. O céu é isso: a
eternidade feliz, na contemplação da face de Deus e em sua companhia, junto com
todos os anjos e santos. Nossa fé na vida eterna está ligada intimamente à fé
em Deus, que não se compraz na morte das pessoas, mas quer que elas vivam e
sejam felizes. Jesus, no Evangelho, ensinou que Deus não é adorado pelos
mortos, mas pelos vivos: por isso, Deus quer que todos vivam e participem da
sua vida divina. Nossa fé em Deus nos faz esperar com firme confiança em suas
promessas. Hoje, façamos oração especial pelos falecidos. E por que motivo o
faremos? Por que cremos e esperamos em Deus, que prometeu ao homem a superação
da morte e a participação na vida eterna feliz. Se não fosse assim, nossa
oração pelos falecidos não teria sentido. A principal oração pelos falecidos é
a celebração da Santa Missa, que é o Sacramento do sacrifício de Jesus pela
salvação de todos. Na Missa colocamos os falecidos na intercessão de Jesus,
Sacerdote eterno, que entregou sua vida sobre a cruz para que todos tenhamos a
vida por meio dele. Rezemos com fé e esperança pelos nossos queridos falecidos,
esperando com certeza o dia de nossa feliz participação na vida eterna.
Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo
de São Paulo
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