REFLEXÃO DOMINICAL III
Virtudes e Esperança
Já
vi escrito em muito para-choque de caminhão, que “O pobre vive de teimoso”, uma
frase que embora irônica tem um fundo de verdade, pois teimosia nesse caso, é
sinônimo de perseverança, paciência e esperança, virtudes que são na verdade o
tempero da nossa fé, porque a fé que não persevera, que não é paciente e não
traz no coração a esperança, é morta, pois segundo São Tiago, a Fé deve ser
sempre vivenciada e transformada em obras. No olhar do pobre encontramos um
brilho de esperança, basta ver as filas em busca de algum benefício nos bancos
ou em repartições públicas, ou até mesmo em fila de liquidação nas grandes
lojas, o pobre é capaz de varar o dia, a noite e a madrugada, para guardar um
lugar, sempre esperançoso de alguma melhora ou benefício.
Não
se quer dizer que estas virtudes sejam exclusivas do pobre, mas é que o rico
não tem muita paciência e perseverança e nem seria necessário, uma vez que o
dinheiro compra tudo nesta vida, fazendo com que o rico coloque toda sua
segurança em seu patrimônio e no dinheiro e, portanto, essas virtudes sempre
nascem e são cultivadas no coração do pobre por causa da sua necessidade, que o
leva a pedir. É esse o caso dessa viúva que aparece no evangelho desse domingo,
pois naquele tempo não havia leis que protegiam e davam garantias à mulher, no
caso do falecimento do esposo e a viuvez, junto com a orfandade, era sinônimo
de desamparo e abandono, já que o parente mais próximo do falecido, apossava-se
de todos os seus bens sobrando para a viúva a triste sina de viver de esmola,
pois a mulher não tinha direito de propriedade.
Na
lógica humana a viúva não tinha outra alternativa se não a de resignar-se com a
sua sorte, pois o juiz dificilmente iria lhe fazer justiça, já que a corda
sempre arrebenta do lado mais fraco. Conformismo e resignação parecem fazer
parte da índole do nosso povo, que deixa o destino da nação nas mãos de certos
homens inescrupulosos, sem se importar com os rumos da política ou da economia,
tornando-se uma perfeita “Vaquinha de presépio”, engolindo tudo que é sapo, ignorando
a sua cidadania e seus direitos essenciais. Mas não é esse o caso da viúva, ela
não se conformou com o abandono e a exploração da quais as viúvas eram vítimas
e resolveu “virar a mesa” indo à luta por aquilo que considerava justo. Não se
sabe quantas vezes ela bateu à porta desse juiz, mas a se julgar pelo temor do
magistrado, não deve ter sido só duas ou três e nem foi tão pacífica assim.
Claro que exercício de cidadania não deve ser confundido com arruaça e
vandalismo.
Os
maus governantes sempre tremem na base, quando o povo toma consciência de seus
direitos e vai à luta por eles, foi o que aconteceu com esse juiz, que não
temia a Deus e nem respeitava homem algum, mas que diante da insistência e da
teimosia da mulher, acabou cedendo e atendeu o seu desejo fazendo-lhe justiça
contra seu adversário, que certamente queria ficar com seus bens. O evangelho
nos mostra a qualidade da verdadeira oração, que não pode ser “imediatista” e
onde se quer que Deus atenda o pedido “pra ontem”, as demoras de Deus requer do
verdadeiro crente a paciência e confiança.
A
oração também não deve ser uma forma de se forçar Deus a fazer a nossa vontade,
realizando coisas, ou consertando certas situações que são de nossa única
responsabilidade. A viúva soube unir oração e ação, com uma fé consciente e
responsável, que crê, persevera, insiste, persiste, espera e vai à luta, para
mudar o placar adverso Deus é a força e a teimosia do pobre pois ouve sempre
seu clamor e jamais deixará de atendê-lo. Aquela fé mágica e comodista, de quem
só quer vento a favor e espera sempre um milagre de Deus, sem mover uma só
palha, é uma fé que nada constrói e nem agrega nessa vida: QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA
ACONTECER!
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0321.htm#msg02
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