O primeiro turno das eleições
presidenciais, em que o ex-presidente Lula obteve 48,41%
dos votos válidos ante 43,22% do atual presidente, Jair Bolsonaro, revela
a "a existência de uma maioria democrática", mas, igualmente, a
existência de "uma direita forte e resiliente", disse o
sociólogo Benedito
Tadeu César. Segundo ele, "as pesquisas acertaram os
índices do Lula,
que estavam dentro da margem de erro. Mas, potencialmente, se imaginava que
haveria um voto maior no Lula por causa de um voto cauteloso que as pessoas não
estavam revelando por medo dos atos fascistas da extrema-direita. Mas o que se
viu foi o contrário: há um voto envergonhado muito consistente e significativo
para o Bolsonaro. Isso não aconteceu somente no plano nacional. No Rio Grande
do Sul, Onyx
Lorenzoni aparecia em segundo lugar, mas quando a direita
se uniu, elegeu Mourão com
força. Há uma força de direita muito grande em muitos estados. Há, obviamente,
uma força de esquerda, de centro-esquerda ou de insatisfação e recordação dos
bons tempos no Nordeste e não só; há a possibilidade de o candidato do PT
vencer na Bahia, o que parecia impossível. Então, tem conquistas", afirma.
Na avaliação do
economista Róber
Iturriet Avila, o resultado do primeiro turno indica que "a extrema-direita está
enraizada e muito mais forte do que se supunha. Tem um tamanho
que nunca teve na história brasileira, alavancada por empresários, produtores
rurais e organizações internacionais". De outro lado, sublinha,
"o PT e
o Lula conseguiram
resistir a esse crescimento e hoje representam o campo democrático no
Brasil".
Para o
pesquisador Ricardo
Evandro Santos Martins, a votação deste domingo sinaliza uma
"mudança nos ventos da eleição para Presidência. Tudo parece indicar, em
mera projeção ainda, a vitória de Lula sobre
Bolsonaro neste segundo turno que ainda vem. Isto significa que a gestão, a
governamentalidade, as políticas sobre vidas e mortes, do atual presidente,
geraram mesmo grande rejeição".
Segundo o cientista
político Giuseppe
Cocco, "o voto que outra vez chamaríamos de classe, hoje
está compacto na procura de um outro mundo e dividido nas opções eleitorais. O
desafio colossal é de revitalizar a democracia no terreno mesmo de uma política dos trabalhadores pobres e
dos pobres trabalhadores".
O historiador Valter Pomar destaca
que o "resultado do
primeiro turno mostrou que a maioria do eleitorado não
aprova o 'cavernícola'. E que há mais de 56 milhões de brasileiras e de
brasileiros que consideram que a saída para a crise nacional é pela
esquerda". De acordo com ele, "há resultados positivos em vários
estados, que poderiam ter sido maiores se a linha política predominante no PT
tivesse sido outra. O caso do Rio
Grande do Sul é exemplar: se não tivessem atrapalhado, o
segundo turno seria de esquerda contra direita", afirma.
Para o jurista e
ex-reitor da Universidade de Brasília – UnB, José Geraldo de Sousa Júnior,
o resultado das eleições aponta para o resgate das esperanças.
"Abre enormes possibilidades para, como afirmou o presidente Lula, poucos
dias antes da votação, em encontro com economistas, personalidades e
empresários, criar um ambiente político para a 'reunião dos divergentes para
vencer os antagônicos'".
Entre
os fenômenos desta eleição a serem analisados nos próximos dias, o
cientista político Rudá
Ricci destaca o número de bancadas conquistadas no Congresso
pelo PT e o PL. "PT e PL fizeram as maiores bancadas
federais. PL fez 99 deputados e PT saltou de 56 para 76. Como se percebe,
Bolsonaro transferiu o voto do PSL para o PL. Este é o fenômeno a ser
analisado". Ele destaca ainda que a votação expressiva de Bolsonaro e
do bolsonarismo se deu no Brasil profundo do Centro-Sul, mas não ocorreu no
Nordeste".
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