REFLEXÃO DOMINICAL III
Homilia de Dom Henrique Soares da
Costa – XXXI Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Sb 11,22 – 12,2; Sl 144; 2Ts 1,11
– 2,2; Lc 19,1-10.
Comecemos
nossa meditação da Palavra deste Domingo pelo Evangelho. Aí, a miséria corre
para ver a Misericórdia, o homem corre para encontrar Deus…
Quem é
este Zaqueu, este baixinho ansioso do Evangelho de hoje? É um publicano – como
o homem que rezava compungido no Domingo passado. Um publicano é um pecador
público, cobrador de impostos para os romanos e, por isso, odiado pelos judeus.
Os publicanos muitas vezes extorquiam o povo. Talvez fosse o caso de Zaqueu,
pois ele “era chefe dos publicanos e muito rico”. Certamente,
tanto mais odiado quanto mais rico…
Pois bem,
é um homem assim que correu e subiu numa figueira para ver o Senhor. Imaginemos
a cena: Zaqueu esquece sua pose, sua respeitabilidade, sua posição. Aquele
homem rico devia também ser sozinho, amargurado na sua riqueza, que o tornava
um rejeitado por todos e um excluído da comunidade do Povo de Deus. Zaqueu
certamente ouvira falar de Jesus, de sua misericórdia, de sua bondade, de sua
mansidão. Não era ele que acolhia os pecadores? Não era ele que comia com os
publicanos? Não tinha ele um publicano, Mateus, como um dos Doze? Por isso, não
hesita em subir numa figueira, não tem medo do ridículo! Quer ver Jesus, nem
que fosse às escondidas… Quem dera que fôssemos assim, que não deixássemos o
Senhor passar em vão no caminho da nossa vida! E aí vinha Jesus… O coração de
Zaqueu certamente disparou… Jesus vai passando, acompanhado, cercado por uma
multidão barulhenta. Aí, então, para surpresa de todos e desespero de Zaqueu,
ele pára, olha pra cima… Imaginemos os risos, a mangação, a situação de
ridículo na qual o pobre Zaqueu encontrou-se! Mas, Jesus é surpreendente – ele
sempre nos surpreende; ele é maravilhosamente surpreendente! “Zaqueu
– chama-o pelo nome. Conhecia-o! – Desce depressa! Hoje eu
devo ficar na tua casa!” Era demais para Zaqueu: o mundo desaparecera;
a mangação não tinha importância… Naquela hora, naquele momento só existitam
Jesus e ele! E Jesus o chamava pelo nome! Enquanto todos o rejeitavam, Jesus,
chamava-o pelo nome, como a um amigo, como a um conhecido, e oferecia-se para
se hospedar na sua casa! “Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com
alegria”. Contemplemos o amor de Deus, amor misericordioso, que alegra,
renova, transforma a existência e dá um novo sentido para a vida!
Qual o
resultado desta visita do Senhor, deste acolhimento de Zaqueu? “Senhor,
eu dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver
quatro vezes mais!” Zaqueu fizera experiência do amor de Deus, Zaqueu
acolhera esse amor, deixara-se amar e, agora, transborda em arrependimento,
amor e misericórdia para com os outros! Que pena que não compreenderam isso, e
começaram a murmurar contra Jesus…
Quem dera
que da escuta da Palavra deste Domingo aprendêssemos quem é o nosso Deus, como
age seu coração, e como nós deveríamos reagir! Pensemos no coração de Deus não
a partir dos nossos sentimentos mesquinhos, mas a partir das palavras
comoventes do Livro da Sabedoria: um Deus tão grande, tão imensamente maior que
tudo quanto existe, tão imensamente para lá de tudo quanto possamos
imaginar… “Senhor,o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de
areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra”. E,
no entanto, ele se inclina com carinho sobre o mundo: dele cuida, sustenta-o,
compadece-se de suas criaturas e nos perdoa as loucuras, ingratidões e
pecados: “De todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos
pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe, e não
desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias
criado”… Admirado, o autor sagrado exclama: “A todos tu tratas com
bondade, porque tudo é teu, ó Senhor, Amigo da vida!” Que título
comovente: Amigo da vida! Um Deus que somente é glorificado na nossa alegria,
na nossa vida! Um Deus que sorri com o sorriso de Zaqueu, um Deus que se
oferece para entrar na casa e no coração de um pecador perdido!
Quem dera
que sejamos como Zaqueu; que desejemos vê-lo, que abramos para ele a nossa
porta, que por seu amor mudemos nossa atitude, como esse publicano. São Paulo
deseja, na segunda leitura de hoje, que o nome de Jesus seja glorificado em
nós, na nossa vida… Seria, será glorificado, se abrirmos essa nossa vida
fechada, mesquinha e cansada para o Senhor. Ele vem a nós cada dia, ele passa
por nós de tantos modos: na Palavra, nos irmãos, nas situações, nos desafios,
nos sofrimentos, nas provas… Quem dera que o reconhecêssemos, como Zaqueu…
Saber acolhê-lo nas suas vindas é glorificá-lo agora e preparar-se bem para a
sua Vinda, no fim dos tempos, aquela da nossa união definitiva com ele, de que
fala o Apóstolo na leitura de hoje.
Que o
Senhor nos dê a ânsia e a graça que concedeu a Zaqueu. Amém.
Dom
Henrique Soares da Costa
http://homiliadominical.blogspot.com/2010/10/conversao-de-zaqueu_31.html
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