A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. (I Coríntios 1, 18)
terça-feira, 4 de outubro de 2022
CONCLUSÃO SOBRE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
CONCLUSÃO
São Francisco de Assis
Este
gigante da santidade era fisicamente de modesta estatura, tinha barbicha rara e
escura. E, no plano cultural, ainda mais modesto. Conhecia o provençal,
ensinado pelo pai, por ter feito algumas leituras de romances de cavalaria. Era
um hábil vendedor de tecidos, ao lado de um pai que lhe enchia a bolsa de
moedas. Nas alegres noitadas com os amigos, Francisco não media despesas.
Participou das lutas entre as cidades e conheceu a humilhação da derrota e de
um ano de prisão em Perúgia.
No
regresso, fez-se armar cavaleiro pelo conde Gualtério e esteve a ponto de
partir para a Apúlia; mas em Espoleto, “pareceu-lhe ver”, conta são Boaventura
na célebre biografia, “um palácio magnífico e belo, e dentro dele muitíssimas
armas marcadas com a cruz, e uma voz que vinha do céu: São tuas e dos teus
cavaleiros”.
A
interpretação do sonho veio-lhe no dia seguinte: “Francisco, quem te pode fazer
mais bem, o senhor ou o servo?” Francisco compreendeu, voltou sobre seus
passos, abandonou definitivamente a alegre companhia e enquanto estava absorto
em oração, na Igreja de São Damião, ouviu claramente o apelo: “Francisco, vai e
repara a minha Igreja que, como vês, está toda em ruínas”.
O
jovem não fez delongas e, diante do Bispo Guido — a cuja presença o pai o
conduzira à força para fazê-lo desistir —, despojou-se de todas as roupas e as
restituiu ao pai.
Improvisou-se
em pedreiro e restaurou do melhor modo possível três igrejinhas rurais, entre
as quais Santa Maria dos Anjos, dita Porciúncula. Uma frase iluminante do
Evangelho indicou-lhe o caminho a seguir: “Ide e pregai… Curai os enfermos… Não
leveis alforje, nem duas túnicas, nem sapatos, nem bastão”.
Na
primavera de 1208, 11 jovens tinham-se unido a ele. Escreveu a primeira regra
da ordem dos frades menores, aprovada oralmente pelo Papa Inocêncio III, depois
que os 12 foram recebidos em audiência, em meio ao estupor e à indignação da
cúria pontifícia diante daqueles jovens descalços e mal-vestidos.
Mas
aquele pacífico contestador teve também a solene aprovação do sucessor, Honório
III, com a bula Solet annuere, de 29 de novembro de 1223.
Um
ano depois, na solidão do monte Alverne, Francisco recebeu o selo da Paixão de
Cristo, com os estigmas impressos em seus membros. Depois, ao aproximar-se da “irmã
Morte”, improvisou seu “Cântico ao irmão Sol”, como hino conclusivo da pregação
de seus frades. Por fim, pediu para ser levado à sua Porciúncula e deposto
sobre a terra nua, onde se extinguiu cantando o salmo “Voce mea”, nas vésperas
de 3 de outubro.
Finalmente decidido a chegar à
perfeição, Francisco só achava prazer na solidão e pedia a Deus,
incessantemente, que lhe desse a conhecer a vontade. Muitas vezes visitava os
hospitais, onde carinhosamente se punha a serviço dos enfermos; chegava a
beijar-lhes as úlceras, sem dar atenção às fraquezas e repulsas da natureza.
Quando não dispunha de dinheiro para distribuir entre os pobres, dava-lhes suas
próprias roupas. Irritado com as suas prodigalidades, o pai fê-lo comparecer
perante o bispo de Assis para que renunciasse aos seus bens. Francisco
devolveu-lhe até mesmo as roupas que usava, e cobriu-se com um surrado capote
de camponês, que alguns dias mais tarde, substituiu por um manto de eremita.
Dois
anos depois, durante uma missa a que assistia, ficou extremamente impressionado
com as palavras do Evangelho: “Não queirais possuir ouro nem prata, nem tragais
dinheiro em vossas cinturas, nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem
calçado, nem bordão”. Obedeceu-lhe literalmente e aplicou-as a si mesmo; e,
depois de jogar fora seu dinheiro, de tirar os sapatos e abandonar o cajado e o
cinto de couro, vestiu um pobre hábito, que amarrou com uma corda. Era o traje
habitual dos pastores e dos pobres camponeses daquele cantão da Itália.
Foram
esses os primórdios de São Francisco; como seriam os dias que viriam depois?
Possa eu terminar por onde ele começou! Meu Deus, quando medito na vida de
vossos santos, cada vez mais me convenço de que nada valho e de que nada faço.
E assim mesmo chego a imaginar muitas vezes que sou qualquer coisa, que faço
qualquer coisa! Meu Deus, tende piedade da minha miséria e do meu orgulho.
Concedei-me a graça de fazer com que me despreza e me aborreça, mas sem
impaciência, e sem desconfiar da vossa misericórdia.
São
Francisco tornou-se o patriarca de uma ordem religiosa que se espalhou pela
terra inteira. Deu ao seus monges o nome de “Irmãos Menores”, ou “Irmãozinhos”,
para distingui-los dos religiosos de São Domingos, denominados “Irmãos
Pregadores”.
No
decorrer do tempo, receberam também as alcunhas de “franciscanos”, e de
“Cordeleiros”, porque cingiam a cintura com uma corda. Dividiram-se em várias
famílias, das quais a dos Capuchinhos é a que mais estritamente observa a
pobreza. Francisco dizia que o espírito da pobreza era o fundamento da sua
ordem. Seus religiosos nada possuíam que lhes pertencesse exclusivamente.
Também não permitia que recebessem dinheiro, apenas as coisas necessárias à
subsistência diária. Chamava a pobreza sua dama, sua rainha, sua mãe, sua
esposa, reclamava-a insistentemente de Deus, como seu quinhão, seu privilégio:
“Ó Jesus, vós que vos comprouvestes em viver na extrema pobreza, fazei-me a
graça de conceder-me o privilégio da pobreza. Meu desejo mais ardente é ser
enriquecido com esse tesouro, Peço-o para mim e para os meus, a fim de que para
a glória do vosso santo nome nada possuamos, nunca, sob o céu, para que devamos
nossa própria subsistência à caridade dos outros e por isso mesmo sejamos muito
moderados e muito sóbrios”.
O amor de Francisco pela obediência não era
menos digno de admiração. Com freqüência era visto consultando os últimos de
seus irmãos, embora fosse dotado de rara prudência e até mesmo do dom da
profecia. Nas suas viagens costumava prometer obediência ao religioso que o
acompanhava. Considerava a propensão que tinha para a obediência uma das
maiores graças que Deus lhe concedera, pois com a mesma facilidade e presteza
obedecia tanto um simples noviço como ao mais antigo e prudente dos frades; dizia,
justificando-se, que devemos considerar não a pessoa a quem obedecemos, mas à
vontade de Deus manifestada através da vontade dos superiores.
Vemos como
São Francisco amava a pobreza e a obediência. E, nós, será que amamos? E, nós,
será que as praticamos?
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